lunes, 25 de diciembre de 2017

A didática do desamor

A escola ensina a diferença entre pentear e despentear, abotoar e desabotoar, cobrir e descobrir, contar e descontar. Mas os límites entre amar e desamar, aqueles não aparecem nos livros.

E é mesmo difícil começar esse caminho sem saber quanto tempo poderia demorar e além de mais sem sinais de orientação para um coração ainda preso que, mesmo se têm vontade de sair, não está preparado para gerir sozinho a nova caída livre que supõe abrir o cadeado.

A escola ensina as diferenças entre perto e longe, entre frio e quente, entre ontem e hoje. Mas o amor gosta de jogar a borrar os limites da percepção humana e de nos impedir de compreender que o feito de sentir ainda perto a quem está longe não significa que essa pessoa, além da nossa cabeça, aquecerá hoje os nossos lençóis.

Embora os livros da escola não falem desses temas, nós que somos estudantes da vida sabemos que o caminho do desamor começa na luta pessoal pela recuperação da realidade perdida, pela saída dum bucle criado na nossa cabeça, duma função pensada para dois atores que deixa de ter sentido quando o primeiro deles decide ir embora.

Evidentemente o desamor não é bonito, mas é necessário se entendemos o processo. Sabemos que depois da função, os atores têm que trabalhar a parte menos entretida: recuperar os adereços e despachar aquilo para poder interpretar novas funções noutros lados. Nesse sentido, o nosso coração também não é automático e demora mesmo tempo em costurar as feridas e em sentir a dor da agulha no início para ter a certeza que elas ficarão bem fechadas e garantir que não voltarão abrir no futuro.

Também sabemos que os atores precisam de tempo quando tudo acaba para se preparar antes de oferecer uma nova função e se querem garantir uma representação de qualidade. Do mesmo modo o nosso coração, esgotado desde a finalização do último acto de amor, demanda um período calmo para descansar e um momento de preparação e reflexão para aprender dos erros da última função antes de voltar subir aos cenários.

Porque mesmo se no início do caminho poderia parecer impossível o resultado final, mesmo se são muitos os atores que teremos de despedir na nossa vida, se gostamos do teatro creremos novamente. E nesse sentido, veremos lógico e necessário passar pelo desamor como caminho para poder encontrar o verdadeiro amor. 

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